domingo, 23 de abril de 2017

Crítica Literária #15 - O Inverno do Mundo, de Ken Follett

Razão da escolha
Decidi ler este livro porque gostei bastante do primeiro livro da Trilogia “O Século” e queria saber como seria o seguimento da série. Além disso, História é um tema que gosto imenso, em particular quando esta incide sobre o século XX. O facto de ter gostado bastante do primeiro livro da trilogia, devido ao estilo de escrita do autor, foi também um fator que fundamentou a minha decisão de ler este livro.

Reação às primeiras páginas
As primeiras páginas falam de uma família alemã, apresentada no primeiro livro, mas que, nesta altura, já contava com mais membros, devido ao passar do tempo. Nessa altura, Hitler ainda não tinha chegado ao poder, mas estava prestes a fazê-lo e o facto de o autor nos começar a contar a história a partir desse momento fez com que tivesse sempre a minha atenção.

Resumo
O livro encontra-se dividido em três partes, que são, por ordem, "A Outra Face”; “Uma Era de Sangue”; e “A Paz Fria”.

Parte I – A Outra Face
A primeira parte do livro passa-se desde 1933 até 1939. Durante a primeira parte, o autor apresenta-nos, sob a perspetiva de várias famílias de diferentes nacionalidades, a chegada de Hitler ao poder e da ascensão do fascismo. A família Von Ulrich, a família alemã que acompanhamos ao longo do livro, encontra-se dividida face ao fascismo, pois Walter, Maud e a sua filha, Carla, encaram Hitler, os Nazis e o fascismo como a privação da democracia, ao passo que Erik, irmão de Carla, o encara como algo magnífico, mas só porque todos os seus amigos pertencem à Juventude Hitleriana.

Por outro lado, a família Leckwith-Williams, família inglesa, tal como a maioria da família Von Ulrich, encarava o fascismo como a privação da democracia e, ao contrário do que acontecera na Alemanha, conseguiu reprimir a ascensão do fascismo em Inglaterra, conseguindo fazer com que a democracia prevalecesse em Inglaterra. Ainda neste conflito, é-nos apresentado Boy Fitzherbert, filho do conde inglês Fitzherbert e defensor acérrimo do fascismo e a sua mulher Daisy Péchkov, uma jovem americana da família Péchkov americana que, por ter sido rejeitada pela alta sociedade da sua cidade-natal, fora para Inglaterra, onde se casou com Boy, e, a princípio, defendia as ideias do marido por não se interessar por política.

Além disso, o autor apresenta também um pouco da guerra civil espanhola, sendo Lloyd Williams um participante voluntário nela, tal como Volódia Péchkov, membro da família Péchkov da Rússia, que combate ao lado de Lloyd.

A primeira parte termina no ano de 1939, quando Hitler chega ao poder e invade a Polónia. Apesar de já terem aparecido anteriormente, só nesta altura é que Woody Dewar, assistente e filho do senador americano Gus Dewar, e Greg Péchkov, filho ilegítimo de Lev Péchkov e assistente de políticos americanos influentes, desempenham um papel relevante no enredo, dando-nos a conhecer as decisões tomadas nas altas esferas da política americana.

Parte II – Uma Era de Sangue
A segunda parte passa-se durante o período em que decorreu a II Guerra Mundial, de 1940 a 1945. Em 1940, o autor começa por nos contar a demissão do primeiro-ministro inglês, seguida da entrega dessa pasta a Winston Churchill. Depois, o autor revela-nos como é que os soldados aliados e os alemães viviam durante os confrontos em França. Nessa altura, já havia começado o Blitz em Londres.

Em 1941, as famílias alemãs Von Ulrich e Franck, ambas ligadas a crianças deficientes, enviaram, pensando que iam ser curados, essas crianças para a morte, pois o governo Nazi defendia que eram demasiado dispendiosas e de nada servirem. Porém, o sentimento de revolta dessas famílias fez com que decidissem investigar a morte das crianças, visto que a causa de morte de ambas foi uma apendicite, apesar de uma delas a ter retirado anos antes. Contudo, abandonaram essa ideia após a Gestapo interferir. Nesse ano, o autor ainda refere o descontentamento que alguns cientistas russos sentiam por saberem que se encontravam numa posição de atraso face aos EUA na construção de uma bomba nuclear, mas esse descontentamento não incomodava Estaline, pois, por saber pouco de Física, ignorava o poder de tal arma. Além disso, Volódia Péchkov, que trabalhava como espião do Exército Vermelho, conseguira fundar uma rede de espionagem na Alemanha liderada por Werner Franck, que lhe ia fornecendo informações preciosas sobre os planos de batalhas dos Nazis, mas que, por vezes eram ignoradas, pois Estaline achava que algumas informações não eram verdadeiras. O relato de 1941 termina com a descrição do ataque a Pearl Harbor quando a família Dewar lá se encontrava a visitar Chuck, filho de Gus e irmão de Woody.

Em 1942, o autor descreve-nos a batalha de Midway, em que Chuck Dewar, que não morrera no ataque a Pearl Harbor, combateu. Além disso, nesse ano, Greg Péchkov acabara a sua licenciatura de Física em Harvard, sendo, pouco depois disso, recrutado para o exército dos EUA para ajudar na construção da bomba nuclear.

Em 1943, já Werner Franck travara conhecimento com Thomas Macke, inspetor da Gestapo, a fim de conseguir manter a sua rede de espiões ativa. Andavam juntos por vezes, mas, desde um incidente em que Macke desconfiava que Werner alertara um espião, este passou a duvidar da lealdade de Werner para com a Alemanha. Para confirmar as suas suspeitas, montou-lhe uma cilada, da qual só escapou por causa de os aviões da RAF terem bombardeado o local onde se encontravam todos, matando todos membros da Gestapo envolvidos nessa cilada, saindo quase ileso.

Em 1944, Woody Dewar, que se alistara como paraquedista do exército dos EUA, é um dos soldados que participou na invasão à Normandia, dando-nos uma visão de como fora essa fase da guerra.

Em 1945, o autor descreve-nos o fim da guerra. Após regressar da Rússia, onde havia combatido, Erik Von Ulrich deixara de ver os Nazis como antes, após ter presenciado a execução de inúmeros presos russos, sendo que alguns nem eram judeus nem comunistas. Por outro lado, a propaganda de Estaline instigava o ódio aos alemães devido a essas execuções, sendo que os soldados russos conseguiam ser tão violentos como os soldados alemães, pois roubavam não só os valores dos soldados, mas também os de civis, além de se sentirem no direito de poder violar mulheres. Também nesse ano, Hitler morreu e os EUA conseguiram testar com sucesso a bomba nuclear e usá-la em Hiroxima e Nagasáqui, fazendo com que a II Guerra Mundial terminasse.

Parte III – A Paz Fria
A terceira parte começa quando Volódia é forçado a ir aos EUA para conseguir informações sobre a bomba nuclear e o que vê lá confirma os rumores que ouvira na URSS, mas, em vez de ódio aos EUA, começa a duvidar do comunismo da URSS, pois sentia-se livre por ninguém lhe pedir os seus documentos enquanto viaja e sentia inveja por todas as pessoas nos EUA viverem desafogadamente, havendo pouca pobreza, quando comparadas com as da URSS. Nesta parte também é focado a aparição da ideia do Plano Marshall, bem como a sua execução e o facto de a URSS também possuir uma bomba nuclear, não se sentindo mais subjugada pela ameaça dos EUA lhes lançar uma dessas bombas que devastaria a URSS, sem que houvesse uma resposta à altura.

Aspetos a destacar
O estilo de escrita do autor é brilhante, pois consegue contar como surgiu, decorreu e terminou a II Guerra Mundial, ao mesmo tempo que vai desenvolvendo um enredo bastante denso em volta da vida sentimental das personagens sem nunca perder a nossa atenção.

Outro aspeto que merece destaque é o modo como o autor nos transmite todas as atrocidades que se passaram antes, durante e depois da II Guerra Mundial, sendo disso exemplo o assassinato de judeus, comunistas, deficientes, de pessoas que não apoiavam o fascismo e até de pessoas sem qualquer crença política ou religiosa. As descrições dos bombardeamentos levam-nos a crer que os presenciámos e as descrições das torturas infligidas pelos membros da Gestapo nas suas caves são tão realistas, chegando a ser chocantes.

Recomendação
O autor fez um excelente trabalho ao contar tudo sobre a II Guerra Mundial, dando-nos a perspetiva de quase todas as frentes envolvidas nesta guerra e por causa de nos descrever pormenorizadamente todos os horrores e atrocidades levadas a cabo por todos os combatentes, desde as violações, os assassínios, os bombardeamentos de alvos civis ou as torturas. Recomendaria este livro, apesar do seu tamanho, a quem procure um bom romance histórico ou apenas a quem procure um bom documento histórico que relate fielmente muitos acontecimento que tiveram lugar na II Guerra Mundial.

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