Razão da escolha
Na altura em que decidi ler este livro, tomei essa decisão por causa de ser uma obra de leitura obrigatória, já após ter lido A Viagem do Elefante, também de Saramago.
Reação às primeiras páginas
Como as primeiras páginas deste livro não me conseguiram captar logo a atenção, fiquei um pouco reticente quanto à continuação da leitura, mas, devido a ser uma obra de leitura obrigatória, decidi continuar a ler, na esperança que o livro me surpreendesse.
Resumo
O livro começa com a promessa que um frade franciscano fez a D. João V de que se erigisse um convento em Mafra, Deus dar-lhe-ia um filho, promessa essa aceite pelo rei e, como realmente teve uma filha, decidiu mandar construir o convento.
Num dia de auto de fé, é-nos apresentado Baltasar Sete-Sóis, um soldado maneta, e Blimunda, a mulher que ele ama e que tem o poder de ver a vontade dentro das pessoas. Nesse dia também conhece o padre Bartolomeu Lourenço que tinha o sonho de voar.
O padre contratou Baltasar para construir a máquina e Blimunda para recolher as vontades que fariam voar a tal máquina, a qual designou como passarola. Baltasar e Blimunda construíram a passarola que realmente voou num dia quando a Inquisição perseguia o padre. Conseguiram aterrar sem grandes problemas, mas, depois de aterrarem, o padre endoideceu, fugiu e desapareceu, sendo que só ao fim de algum tempo é que descobriram que tinha morrido em Espanha.
Após todos os incidentes, Baltasar foi trabalhar para o convento de Mafra, visto que Mafra fora a terra onde nascera e era das únicas opções de trabalho que tinha por ter perdido a mão. Tal como Baltasar, muitos outros homens foram trabalhar na construção do convento, uns por vontade própria, outros por ordem real, para que o convento estivesse pronto o mais rápido possível.
Enquanto Baltasar trabalhou em Mafra, ia de vez em quando verificar o estado da passarola para que não se fosse deteriorando. Num desses dias, Baltasar tropeçou numa tábua e fez com que a máquina levantasse voo e nunca mais voltou a Mafra. Blimunda, estranhando a demora do regresso de Baltasar, decidiu procurá-lo, mas só o encontrou volvidos alguns anos, em Lisboa, quando ia ser queimado num auto de fé.
Aspetos a destacar
Na minha opinião, a descrição exaustiva que o autor nos proporciona da vida da sociedade portuguesa do século XVIII é muito bem conseguida, pois consegue retratar com precisão a vida das várias classes sociais. A descrição de Lisboa e de Mafra demonstrava claramente que as pessoas viviam numa situação de grande pobreza. Essa é a perspetiva com que nos deparamos mais vezes durante a obra, por causa das personagens principais serem Baltasar e Blimunda. Toda a sociedade portuguesa era muito religiosa e Saramago proporcionou-nos longas e pormenorizadas descrições relativas a autos de fé, procissões, missas entre outros momentos ligados à religião.
Saramago demonstrou, principalmente no início da obra, que a rainha era muito religiosa. D. João V também o era por ter acreditado na promessa do frade e, por consequência, ter que construir o convento. D. João V podia ter-se ficado por aí, mas decidiu ampliar o convento, o que nos revela a vontade megalómana de D. João V. Além disso, Saramago, para demonstrar isso e o modo como a corte viviam, descreveu como o séquito que acompanhava o rei nas suas viagens era muito grande. Além dessas descrições, o autor conta-nos pormenorizadamente uma viagem para transportar um bloco de pedra enorme, para que no futuro se pudesse dizer que aquela pedra era uma só em vez de várias compactadas, demonstrando que a vaidade e a ostentação eram valores mais prezados que a eficiência e a prontidão.
Recomendação
Recomendo a leitura desta obra a quem quiser conhecer um pouco mais acerca de como foi construído o convento de Mafra, tendo em conta os mais diversos aspetos. Além disso, esta obra tece duras críticas à sociedade portuguesa, tanto à da época em questão como à atual, dada a atualidade que Saramago imprime em algumas passagens.
Para quem procura uma história cativante com um enredo emocionante, infelizmente, este, sem dúvida, é o livro errado.
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