domingo, 12 de março de 2017

Crítica Literária #9 - A Mão do Diabo, de José Rodrigues dos Santos

Razão da escolha
Decidi ler este livro porque gosto bastante do estilo de escrita do autor. Além disso, foi-me dito que este livro explicava o modo como surgiu a crise em Portugal e, como Economia é um tema pelo qual me interesso, decidi lê-lo.

Reação às primeiras páginas
Como o livro começa com o assalto, a tortura e o assassínio de dois franceses que trabalhavam em algo que não nos é dito inicialmente, tive sempre vontade de continuar a ler e nunca pensei em desistir, pois o autor é um perito em captar a nossa atenção desde o início, tal como o é em despertar a nossa curiosidade logo nas primeiras páginas.

Resumo
Após o assassinato dos dois franceses, o autor faz com que acompanhemos um historiador e especialista em línguas antigas e em criptanálise: Tomás Noronha. Inicialmente, o autor dá-nos a conhecer a realidade das manifestações gregas, sendo que, apesar de ser inocente, Tomás é preso durante uma. Na prisão, o autor mostra-nos que os Gregos culpam os Alemães pela crise por eles vivida. Contudo, um alemão, que também fora preso por engano, demonstra que qualquer Alemão que leia os jornais atentamente sabe tudo acerca das opções erradas que os governos de Atenas tomaram.

Depois de resolvido o erro da prisão de Tomás, este regressa a Portugal, sendo despedido da universidade onde dava aulas. Desse modo, o autor mostra-nos o que é realmente o desemprego em Portugal e o que alguns desempregados portugueses pensam quando lhes é oferecido emprego.

Durante uma viagem de carro até Coimbra, Tomás e outros dois personagens revelam muito sobre a crise em Portugal, desde a sua origem até às suas últimas consequências, sem esquecer quem foram os culpados de a trazerem para Portugal, uma vez que esta não surgiu imediatamente em Portugal, e o modo como a trouxeram.

Posteriormente, Tomás conhece Raquel de la Concha, uma agente espanhola da Interpol, a quem explica inúmeras coisas. Começam por falar da origem da crise imobiliária em Espanha, mas, para isso, Tomás teve de recuar no tempo e falar de como os Americanos resolveram a Grande Depressão de 1929 através da regulação dos mercados. Contudo, algumas décadas mais tarde, os banqueiros, com o objetivo de conseguirem maiores lucros, começaram a aliciar os políticos a desregular os mercados, o que fez com que se originasse uma nova crise, a crise de 2008, também conhecida como a Segunda Gran-de Depressão.

Tomás explicou a Raquel, mais tarde, como foi a moeda única europeia, o Euro, arquitetada, sendo que depois lhe explicou como é que a crise do Euro e das dívidas soberanas surgiram. Nesta conversa, Tomás disse a Raquel que, provavelmente, se tudo se mantivesse como estava, o Euro acabaria por não funcionar, mas que poderia ser salvo se estivessem reunidas algumas condições, nomeadamente uma rígida disciplina orçamental. Face à crise, Tomás explicou ainda a Raquel quais seriam as consequências se um país saísse do Euro e quais os cenários prováveis após a saída das crises.

O livro termina com a enumeração dos vários culpados da origem da crise de 2008 nos EUA, mas também com os culpados das crises silenciosas criadas antes do alastramento da crise de 2008 à Europa.

Aspetos a destacar
Como sempre, o estilo de escrita simples e direto do autor é algo que, na minha opinião, merece sempre destaque, pois, mesmo para quem não entenda muito de um determinado tema, José Rodrigues dos Santos explica tudo ao pormenor, o que faz com que consiga transmitir a sua mensagem com grande clareza e sem dificuldade.

Além do estilo de escrita do autor, o facto de José Rodrigues dos Santos ter conseguido escrever uma grande obra tendo por base Economia, conseguindo ligar vários fenómenos económicos que ocorreram ao longo do tempo em vários pontos do globo, é algo que merece grande destaque.

Excerto e motivos da escolha do excerto
“ ‘A fakelaki é uma velha tradição cultural.’
‘A fakelaki é corrupção institucionalizada.’ "

Escolhi este excerto, pois demonstra bem como os Gregos encaram a corrupção como se fosse algo perfeitamente normal, pois, por exemplo, além de pagarem as contribuições para que o seu sistema nacional de saúde público funcione, ainda têm de pagar ao médico um suborno para ele os tratar. Outro caso, por exemplo, é que os gregos, subornando as pessoas devidas, conseguem obter vantagens para receberem tratamentos mais rápido, entre outros inúmeros exemplos, que existem hoje em dia e continuarão a existir no futuro da Grécia.

Recomendação
Recomendaria este livro porque o estilo de escrita do autor é fantástico, tal como as suas ideias e a objetividade com que expõe determinados temas. Além disso, recomendaria este livro a todas as pessoas, quer gostem de Economia ou não, para perceberem como surgiram as várias crises económicas e como a corrupção é algo que está impregnado nas atuais democracias de todos os países, quer se tratem de países da América, quer se tratem de países Europeus, quer estes estejam localizados no centro do continente, quer estejam localizados na periferia.

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