domingo, 26 de março de 2017

Crítica literária #11 - O Codex 632, de José Rodrigues dos Santos

Razão da escolha
Decidi ler este livro porque José Rodrigues dos Santos é um dos autores portugueses que mais aprecio, devido, principalmente ao seu estilo de escrita, e, por outro lado, porque o título deste livro me chamou a atenção, levando-me a pensar que o tema central deste livro seria a religião.

Reação às primeiras páginas
O início deste livro é marcado com uma morte fora de contexto, tendo isso despertado a minha curiosidade para ler o resto do livro, tendo, portanto, sempre vontade de continuar a ler.

Resumo
Como já foi referido, o livro começa com a morte, um pouco descontextualizada, do professor Toscano, um velho historiador e professor universitário, e com a descrição da família e da vida de Tomás Noronha, personagem principal e também um historiador e professor universitário.

Depois disso, Tomás foi contactado por Nelson Moliarti, funcionário da American History Foundation, para que recuperasse a investigação que estava a ser levada a cabo pelo velho historiador. Esta relacionava-se com a descoberta do Brasil, mas o professor Toscano tinha-a dirigido para a verdadeira identidade de Colombo. Além disso, a investigação tinha sido deixada codificada e Tomás seria a pessoa encarregue de decifrar os enigmas.

A maioria do livro fala de como Tomás decifrou e recuperou a pesquisa do professor Toscano, visitando vários países e bibliotecas e falando com várias pessoas para  chegar à verdadeira identidade de Colombo, tendo chegado às seguintes conclusões:

1. Colombo não era de Génova, mas, sim, um fidalgo português com raízes italianas;

2. O verdadeiro nome de "Colombo" não era Colombo;

3. Devido à Inquisição, teve que se converter ao cristianismo, mas Colombo continuava a praticar ações relacionadas com o judaísmo;

4. "Colombo" tinha conspirado, juntamente com outros fidalgos, para matar D. João II, o que o obrigou a fugir para Espanha;

5. D. João II, que já sabia que a América existia e que era uma terra com pouco potencial, mas desejava ficar com o domínio do comércio das especiarias da Índia, evitando uma guerra com Castela usou "Colombo" para iludir os castelhanos, fazendo-os pensar que este tinha descoberto a “Ásia”, ajudando-o na sua viagem para a América.

O final do livro apresenta várias revelações inesperadas, tendo a pesquisa recuperada por Tomás sido destruída pela American History Foundation, pois as pessoas que desempenhavam altos cargos na fundação tinham raízes de Génova e tinham orgulho em terem nascido na mesma cidade que o descobridor da América e se aquela investigação fosse publicada, não teriam um motivo de orgulho tão forte como aquele.

Aspetos a destacar
Na minha opinião, o tema do livro é um dos aspetos que merecem destaque porque este se baseia em factos históricos reais e que nos mostram a verdade acerca de vários temas polémicos, que neste caso é a verdadeira identidade de "Colombo".

Excerto e motivos da escolha do excerto
“O que é então o Santo Graal? É o conhecimento. E o que é o conhecimento senão poder? Isso foi algo que os templários rapidamente perceberam. Quando vieram para Portugal, fugindo das perseguições decretadas contra si pela Europa, os templários trouxeram consigo o cálice e o dragão, o Santo Graal, uma sabedoria, em parte científica e em parte esotérica, acumulada em dois séculos de explorações na Terra Santa. Possuíam conhecimentos de navegação, artes de invenção, espírito de descoberta, erudição hermética. Portugal foi o seu destino, mas também o ponto de partida para a revelação do mundo, para a nova demanda do conhecimento. Porque este país chama-se Portugal. É um nome que vem de Portucalem, mas que, deste modo, poderá também ser ligado ao cálice sagrado. Portugal. Porto Graal. O porto do Graal. Foi através deste imenso porto que se partiu na nova demanda do novo Graal. O Santo Graal da sabedoria. O cálice do conhecimento. A descoberta do mundo.”

Escolhi este excerto porque me faz ter orgulho no país em que vivo. Sinto-me orgulhoso de que em tempos, neste país, D. Dinis tenha desrespeitado um decreto europeu e tenha abrigado os cavaleiros templários, possuidores de conhecimento, de poder. D. Dinis, apesar de não ter realmente mandado plantar o Pinhal de Leiria na íntegra, foi uma personagem importantíssima para que os Descobrimentos fossem possíveis, tanto por ter acolhido os templários como ter uma visão de longo prazo para que as naus descobridoras do mundo fossem construídas. Naus essas que foram capitaneadas sob ordens de almirantes que possuíam os conhecimentos que os templários trouxeram para Portugal, graças a D. Dinis. Tal como esse rei, também o Infante D. Henrique e D. João II foram homens visionários. D. Dinis pelos motivos atrás referidos e o Infante D. Henrique por ter planeado os Descobrimentos. Já D. João II foi um homem visionário, por um lado, por ainda dar abrigo aos judeus, também um povo com conhecimentos de navegação. Por outro lado, por ter tido a inteligência de dar a América, terra com pouco potencial, aos castelhanos e ficar com a Índia só para si, evitando uma guerra que só poderia ser evitada desta forma. Por todos esses motivos, na minha opinião, D. João II tem o merecido cognome de “Príncipe Perfeito”.

Recomendação
Na minha opinião, este livro é ótimo, devendo-se isso, em grande parte, ao seu tema, que é bastante interessante, mesmo os que não se interessem muito por História, porque Cristóvão Colombo é uma figura histórica com tanta relevância como Vasco da Gama, e são ambas personalidades Históricas incontornáveis.

Também recomendaria este livro por causa dos seus enigmas, pois a forma como José Rodrigues dos Santos nos mostra a sua resolução é bastante semelhante à resolução de qualquer outro enigma, incluindo as suas tentativas falhadas.

domingo, 19 de março de 2017

Crítica Literária #10 - Fúria Divina, de José Rodrigues dos Santos

Razão da escolha
Decidi ler este livro por ser o livro favorito de duas pessoas, cujas recomendações não me costumam desiludir, escrito por José Rodrigues dos Santos, que também é um dos autores que mais aprecio.

Reação às primeiras páginas
O prólogo é bastante emocionante, visto que relata o assalto a uma base militar russa com o objetivo de roubar material para produzir uma bomba nuclear. Na minha opinião e tendo em conta o início de outros livros do mesmo autor, achei que este ficou um pouco aquém das minhas expectativas, mas foi suficientemente bom para me convencer a querer pros-seguir a sua leitura.

Resumo
Como já referi acima, o prólogo relata o assalto a uma base militar russa com o objetivo de roubar material para produzir uma bomba nuclear.

A história propriamente dita é-nos apresentada pelo autor segundo duas perspetivas distintas: por um lado, o autor apresenta-nos Ahmed, um rapaz egípcio, que acompanhamos durante grande parte da obra, sendo que isso permite que acompanhemos o seu crescimento e o modo como pensa. Inicialmente, Ahmed era um simples rapaz que tencionava ser um bom muçulmano, mas, com o passar do tempo, torna-se um fundamentalista devido à influência de um professor de religião que fazia parte de uma organização fundamentalista islâmica. A partir desse momento, Ahmed começa a pensar cada vez mais como um fundamentalista islâmico, sendo, mais tarde, treinado para ser um mártir ao serviço de Bin Laden.

Por outro lado, o autor apresenta-nos a história segundo a perspetiva do personagem que criou: o historiador e especialista em línguas antigas e em criptanálise, Tomás Noronha. Este é encarregado de resolver um enigma para evitar um atentado que estava a ser planeado pela Al-Qaeda e que será levado a cabo por Ahmed.

Aspetos a destacar
Independentemente do número de obras que tenhamos lido e que tenham sido escritas por este autor, o estilo de escrita de José Rodrigues dos Santos continuará a ser um aspeto a destacar, uma vez que ele consegue transmitir as suas ideias e a sua mensagem de forma muito simples e direta, enquanto cria um enredo bastante interessante.

Além disso, o modo como o autor nos apresenta o fundamentalismo islâmico é algo que merece destaque, pois, pela primeira vez, entendi como é possível que alguém consiga acreditar numa religião que prega a guerra e a humilhação contra os infiéis, ao invés da tolerância e o respeito pelas outras religiões.

Excerto e motivos da escolha do excerto
Apesar de haver inúmeros excertos que poderiam ser aqui transcritos, julgo que o melhor, neste caso, é escolher todos os capítulos protagonizados por Ahmed.

Apesar de Tomás Noronha explicar a uma agente americana que trabalha com ele algumas coisas sobre o Islão, em que esta fica bastante chocada perante as diferenças que existem entre o cristianismo e o Islão, penso que todos os capítulos protagonizados por Ahmed são muito mais elucidativos sobre o que é realmente o Islão e as razões de como alguém pode acreditar numa religião em que se prega, por exemplo: a morte aos infiéis quando estes se recusam a pagar uma taxa por não acreditarem em Alá; a recusa da democracia em favor da teocracia; a aceitação de penas como a lapidação por adultério ou o corte de uma mão por roubo.

Recomendação
Apesar do estilo de escrita fantástico do autor, o grande trunfo deste livro é, sem dúvida alguma, o modo como o autor nos apresenta a verdade por detrás do Islão e o modo como os jovens podem viver a acreditar numa religião tão violenta que apela à guerra contra os infiéis em nome de Alá, podendo vir a tornar-se mártires.

Além disso, revela-nos o modo como pode ser fácil que os terroristas fundamentalistas islâmicos obtenham materiais para construírem bombas nucleares, o modo como é fácil transportar esses materiais e o modo como é fácil que se façam bombas nucleares, independentemente de estas se tratarem de bombas nucleares puras ou sujas.

domingo, 12 de março de 2017

Crítica Literária #9 - A Mão do Diabo, de José Rodrigues dos Santos

Razão da escolha
Decidi ler este livro porque gosto bastante do estilo de escrita do autor. Além disso, foi-me dito que este livro explicava o modo como surgiu a crise em Portugal e, como Economia é um tema pelo qual me interesso, decidi lê-lo.

Reação às primeiras páginas
Como o livro começa com o assalto, a tortura e o assassínio de dois franceses que trabalhavam em algo que não nos é dito inicialmente, tive sempre vontade de continuar a ler e nunca pensei em desistir, pois o autor é um perito em captar a nossa atenção desde o início, tal como o é em despertar a nossa curiosidade logo nas primeiras páginas.

Resumo
Após o assassinato dos dois franceses, o autor faz com que acompanhemos um historiador e especialista em línguas antigas e em criptanálise: Tomás Noronha. Inicialmente, o autor dá-nos a conhecer a realidade das manifestações gregas, sendo que, apesar de ser inocente, Tomás é preso durante uma. Na prisão, o autor mostra-nos que os Gregos culpam os Alemães pela crise por eles vivida. Contudo, um alemão, que também fora preso por engano, demonstra que qualquer Alemão que leia os jornais atentamente sabe tudo acerca das opções erradas que os governos de Atenas tomaram.

Depois de resolvido o erro da prisão de Tomás, este regressa a Portugal, sendo despedido da universidade onde dava aulas. Desse modo, o autor mostra-nos o que é realmente o desemprego em Portugal e o que alguns desempregados portugueses pensam quando lhes é oferecido emprego.

Durante uma viagem de carro até Coimbra, Tomás e outros dois personagens revelam muito sobre a crise em Portugal, desde a sua origem até às suas últimas consequências, sem esquecer quem foram os culpados de a trazerem para Portugal, uma vez que esta não surgiu imediatamente em Portugal, e o modo como a trouxeram.

Posteriormente, Tomás conhece Raquel de la Concha, uma agente espanhola da Interpol, a quem explica inúmeras coisas. Começam por falar da origem da crise imobiliária em Espanha, mas, para isso, Tomás teve de recuar no tempo e falar de como os Americanos resolveram a Grande Depressão de 1929 através da regulação dos mercados. Contudo, algumas décadas mais tarde, os banqueiros, com o objetivo de conseguirem maiores lucros, começaram a aliciar os políticos a desregular os mercados, o que fez com que se originasse uma nova crise, a crise de 2008, também conhecida como a Segunda Gran-de Depressão.

Tomás explicou a Raquel, mais tarde, como foi a moeda única europeia, o Euro, arquitetada, sendo que depois lhe explicou como é que a crise do Euro e das dívidas soberanas surgiram. Nesta conversa, Tomás disse a Raquel que, provavelmente, se tudo se mantivesse como estava, o Euro acabaria por não funcionar, mas que poderia ser salvo se estivessem reunidas algumas condições, nomeadamente uma rígida disciplina orçamental. Face à crise, Tomás explicou ainda a Raquel quais seriam as consequências se um país saísse do Euro e quais os cenários prováveis após a saída das crises.

O livro termina com a enumeração dos vários culpados da origem da crise de 2008 nos EUA, mas também com os culpados das crises silenciosas criadas antes do alastramento da crise de 2008 à Europa.

Aspetos a destacar
Como sempre, o estilo de escrita simples e direto do autor é algo que, na minha opinião, merece sempre destaque, pois, mesmo para quem não entenda muito de um determinado tema, José Rodrigues dos Santos explica tudo ao pormenor, o que faz com que consiga transmitir a sua mensagem com grande clareza e sem dificuldade.

Além do estilo de escrita do autor, o facto de José Rodrigues dos Santos ter conseguido escrever uma grande obra tendo por base Economia, conseguindo ligar vários fenómenos económicos que ocorreram ao longo do tempo em vários pontos do globo, é algo que merece grande destaque.

Excerto e motivos da escolha do excerto
“ ‘A fakelaki é uma velha tradição cultural.’
‘A fakelaki é corrupção institucionalizada.’ "

Escolhi este excerto, pois demonstra bem como os Gregos encaram a corrupção como se fosse algo perfeitamente normal, pois, por exemplo, além de pagarem as contribuições para que o seu sistema nacional de saúde público funcione, ainda têm de pagar ao médico um suborno para ele os tratar. Outro caso, por exemplo, é que os gregos, subornando as pessoas devidas, conseguem obter vantagens para receberem tratamentos mais rápido, entre outros inúmeros exemplos, que existem hoje em dia e continuarão a existir no futuro da Grécia.

Recomendação
Recomendaria este livro porque o estilo de escrita do autor é fantástico, tal como as suas ideias e a objetividade com que expõe determinados temas. Além disso, recomendaria este livro a todas as pessoas, quer gostem de Economia ou não, para perceberem como surgiram as várias crises económicas e como a corrupção é algo que está impregnado nas atuais democracias de todos os países, quer se tratem de países da América, quer se tratem de países Europeus, quer estes estejam localizados no centro do continente, quer estejam localizados na periferia.

domingo, 5 de março de 2017

Crítica Literária #8 - Eusébio Macário, de Camilo Castelo Branco

Razão da escolha
Decidi ler esta obra porque, do mesmo autor, apenas tinha lido A Brasileira de Prazins, que, apesar de não fazer parte do estilo de livros que mais gosto, até gostei e a curiosidade acerca do autor também contribuiu para que decidisse ler este livro.

Reação às primeiras páginas
Dado que não estou muito familiarizado com o autor nem com o seu estilo de escrita, que é diferente, como seria de esperar, de qualquer outro autor, mas que, na minha opinião, não é um estilo fácil de apreender rapidamente, o livro não me despertou grande interesse.

Resumo
A história desenrola-se no norte de Portugal, em Basto, por volta de 1822, conforme nos é indicado pelas várias referências que nos são dadas.

Eusébio Macário era um boticário, isto é, um farmacêutico, viúvo e tinha dois filhos: José Fístula e Custódia. Ambos têm uma hereditariedade sensual e estroina, que, por vezes, os leva a terem que tomar uma decisão em que, de um lado, se encontra a racionalidade do dinheiro e, do outro, a irracionalidade do desejo.

Eusébio é amigo do padre Justino, que vive com a sua amante, Felícia, que tinha um irmão “brasileiro”, isto é, um português que emigrou para o Brasil e fez fortuna, Bento, que é comendador.

Após voltar do Brasil, Bento interessa-se por Custódia e os dois acabam por se casar, sendo que ele estava interessado nela devido à atração física, mas, em sentido contrário, ela decidiu casar-se com Bento por causa do dinheiro. Após casarem, mudam-se para o Porto e Felícia acompanha-os, abandonando o padre Justino, que, desconsolado, se torna amante de Eufémia, que era uma modista. No final, Felícia acaba por se casar com o José Fístula, filho de Eusébio e irmão de Custódia.

Aspetos a destacar
Este livro foi escrito como uma sátira ao naturalismo, que, na altura em que o autor escreveu a obra, ia desabrochando em Portugal. Pondo de lado este facto, não gostei muito deste livro, pois não me conseguiu nunca captar a minha atenção, nem devido ao estilo de escrita e ainda menos devido ao enredo, pelo que recomendaria a leitura deste livro pelo lado do conhecimento do estilo de escrita do autor, mas não devido à história que o livro nos conta.