“ “(…) Paguei ao meu conhecido para me dar acesso ao ministro e paguei ao ministro para me conceder o exclusivo e assinar o contrato.”
“Ou seja, precisou de olear o processo com bakshish…”
Ohannes abriu os braços, como quem expõe uma evidência.
“Meu caro, ninguém enriquece no Império Otomano sem pôr dinheiro nas mãos dos decisores e da clique que os rodeia (…)” ”
Esta passagem textual encontra-se no livro O Homem de Constantinopla, escrito por José Rodrigues dos Santos, e decidi escrever um pouco sobre ela por ser um ponto negativo que existe na maioria das nações do nosso mundo e que, com o seu fim, promover-se-ia a igualdade entre todas as pessoas, sendo necessário o mérito próprio para que alguém se conseguisse destacar.
Nesta passagem, Calouste Gulbenkian falava com o pai da sua mulher, estando este último a contar-lhe como tinha conseguido obter a sua riqueza. Ohannes, através de bakshish (subornos), tinha obtido acesso aos homens com os mais altos cargos no Império Otomano para negociar com eles e, recorrendo novamente aos subornos, assinou com eles um contrato exclusivo que em tudo o beneficiava, o inverso do que aconteceria com o Império Otomano.
Calouste Gulbenkian vivera durante a segunda metade do século XIX e a primeira do século XX, sendo que este diálogo poderia ter realmente ocorrido, tendo em conta que estamos perante uma obra de ficção, nessa altura. Podemos ver, então, que muitos dos homens ricos que existiam no Império Otomano conseguiram obter as suas fortunas através da corrupção, beneficiando eles com esses contratos, enquanto que, em simultâneo, prejudicavam o Império Otomano.
Porém, apesar de esta conversa poder ter tido lugar há mais de 100 anos, esta poderia passar-se nos dias de hoje. Indo além da componente temporal, esta conversa poderia ocorrer na Turquia, mas poderia igualmente ser tida em inúmeros outros países, entre os quais poderia estar Portugal!
O nosso País, apesar de estar inserido na União Europeia e de, atualmente, se encontrar 30 posições acima da Turquia no que diz respeito ao Índice de Desenvolvimento Humano, é fustigado por negociatas que, em variadíssimas situações, sai lesado em favor da outra parte dos contratos. Portugal, que é um País que está na moda e que atrai numerosos turistas, tem vindo a ser destruído, nomeadamente no que toca ao seu património ambiental e paisagístico.
Além disso, não são só as nossas paisagens e as nossas mais-valias ambientais que saem prejudicadas, também nós, os contribuintes, somos lesados, pois o Estado somos NÓS. Se não existissem pessoas, não existiria Estado e sempre que este sai lesado num negócio, NÓS somos, consequentemente, lesados também. Por esse motivo, TODOS temos de nos tornar cidadãos politicamente conscientes e capazes de entender todas as consequências em que Portugal, enquanto Estado, quer a nível local ou central, se envolve, pois NÓS, cidadãos e contribuintes, somos parte interessada e, se procuramos sempre o melhor possível para nós, porque não o fazemos nestes casos?
Para finalizar o texto, faço um apelo a todos para que pensem que todos fazemos parte do Estado e que, sempre que este, quer a nível nacional ou local, se envolva em algum acordo, negócio, etc., também se lembrem que fazem parte da decisão. Um país com cidadãos mais conscientes e mais informados é um país mais forte.
Clique aqui para ler a Crítica Literária à obra O Homem de Constantinopla.
Clique aqui para ler a Crítica Literária à obra O Homem de Constantinopla.
Sem comentários:
Enviar um comentário