domingo, 5 de novembro de 2017

Além dos Livros #2 - Os Ursos de Somiedo, Espanha

Numa edição de há alguns anos da National Geographic, encontrei um excerto que me chamou a atenção, pois mostra-nos que os nossos vizinhos espanhóis foram capazes de valorizar uma dada área, Somiedo, usando, para isso, um recurso natural, os ursos, mas, ao invés de os matarem, usaram-nos como bandeira para que conseguissem classificar um espaço como Parque Natural e, com isso, conseguiram valorizar Somiedo.

Olhando com mais atenção para os pormenores, segundo a revista: em 2005, os prejuízos causados pelos animais em Somiedo foram avaliados em 300.000 euros, sendo estes distribuídos da seguinte forma: 55% (165.000 euros) foram causados por javalis; 20% (60.000 euros) por lobos e outros tantos por veados; e apenas 5% (15.000 euros) pelos ursos. Tendo em conta estes dados, o argumento apresentado por homens que estavam contra a criação do Parque Natural de Somiedo cai imediatamente por terra, visto que os prejuízos causados pelos ursos são 11 vezes inferiores aos causados pelos javalis e 4 vezes inferiores aos causados pelos lobos e pelos veados.

Também na revista, afirma-se que, antes da criação do Parque Natural, o concelho de Somiedo era o 77º município das Astúrias, em termos de Rendimento per Capita, em 78 possíveis. 18 anos depois, em 2005, devido à conservação e à boa gestão do Parque, Somiedo conseguiu subir até à quadragésima posição, não esquecendo que 40% do território são de uso restrito. Pode-se, então, concluir que os ursos, além de serem apenas uma pequena fonte de prejuízos, quando comparados com outros animais, como foi acima exemplificado, são ainda uma fonte de atração de riqueza, como se pode ver pela subida de posição do município de Somiedo, nos termos apresentados.

Extrapolando esta situação para terras lusitanas, esta situação deveria ser alvo de reflexão, pois, se os nossos vizinhos espanhóis conseguiram valorizar um território com um Parque Natural, que motivo temos nós para não conseguirmos fazer o mesmo que eles? São humanos, como nós; fazem parte da União Europeia, como nós, apesar de nós recebermos mais fundos que eles… Nesse caso, recebendo nós mais fundos europeus, não seremos capazes de os utilizar da forma “correta” e de os aplicarmos para desenvolvermos o País?

Eles utilizaram o urso como bandeira para a classificação de Parque Natural, mas nós não temos que os imitar! Basta seguirmos o exemplo por eles dado e usar uma espécie endémica portuguesa, da fauna ou da flora, para, como eles, conseguirmos ajudar uma determinada zona a desenvolver-se utilizando um elemento natural.

Porém, eu compreendo a dificuldade que os portugueses têm para fazer isto: o número de atentados à nossa paisagem e aos nossos recursos naturais são já incontáveis e os incentivos para seguirmos este caminho são muito menores, mas tem de haver vontade de se mudar! Temos de deixar para trás o establishment e seguir o nosso próprio caminho, caso contrário estaremos a condenar as gerações vindouras, que tanto podem vir a ser apenas os nossos bisnetos, como podem vir a ser já os nossos filhos.

Em jeito de conclusão, deixemos para trás a ganância que vemos por toda a parte, deixemos para trás os negócios com lucros astronómicos que se fazem atentando contra a natureza, contra a fauna, contra a flora, mas, principalmente, contra os bolsos de todos os contribuintes e sigamos o exemplo dos nossos vizinhos espanhóis: vamos mudar o nosso comportamento e a nossa mentalidade para valorizar o nosso território, as nossas espécies endémicas e as nossas paisagens.

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