domingo, 26 de fevereiro de 2017

Crítica Literária #7 - A Brasileira de Prazins, de Camilo Castelo Branco

Razão da escolha
Este livro insere-se na coleção que o jornal Expresso está a publicar da obra essencial de Camilo Castelo Branco e, como já me tinha sido recomendada a leitura de um livro deste autor, optei por escolher este, apesar de não ter pesquisado muito acerca dele. Além disso, escolhi ler este livro para tomar conhecimento do estilo de escrita de Camilo Castelo Branco.

Reação às primeiras páginas
Este livro começa com um bilhete que é encontrado dentro de um livro, servindo este como modo de nos despertar a curiosidade para que queiramos ler e saber o que acontece no decorrer da obra. Como gostei disso, decidi ler o livro, mas, ao longo do tempo, senti-me um pouco perdido.

Resumo 
Este livro mostra como era a vida das pessoas que viviam no Alto Minho após as lutas liberais, cruzando-se, simultaneamente, com um romance vivido por três personagens, Marta Prazins, que era amada por Zeferino, um pedreiro a favor de D. Miguel, e que também era amada por José Dias, que era o verdadeiro amor de Marta, mas este, devido a questões de saúde, acaba por morrer. 

Durante grande parte do livro, vemos como os miguelistas ainda lutavam para tentar aclamar de novo D. Miguel, mas sem nunca terem sucesso. Este livro serve também para criticar os miguelistas, nomeadamente os morgados, pois o autor descreve-os, geralmente, como bêbados e estúpidos, pois os seus atos, apesar de, por vezes, serem bravos, são irrefletidos, trazendo-lhes consequências nefastas que eles não previram quando tomaram essas decisões. O melhor exemplo disso é quando um homem, não abastado, mas muito parecido a D. Miguel, engendra um plano em que se faz passar por ele com o objetivo de ganhar dinheiro à custa dos morgados miguelistas, tendo quase obtido sucesso não fosse um padre amigo de um morgado e tentasse averiguar se o homem que se dizia ser D. Miguel era realmente quem dizia ser. Alguns miguelistas ainda caíram no engodo montado pelo falso D. Miguel, perdendo dinheiro ou perdendo alguns anos de vida numa luta infrutífera. 

Depois de tudo isto, o livro foca-se em Marta, sendo que, nessa parte do livro, Zeferino já não tem muita influência. É de destacar que Marta sofria de uma doença hereditária, tendo ataques de epilepsia e alucinações, em que via o seu amado José Dias, que já estava morto. Além disso, como José Dias morrera, Marta casara-se com o seu tio, Feliciano, a pedido de seu pai, quando este estivera à beira da morte, mas que acabou por sobreviver. Há ainda que realçar que, a dada altura, Marta foi exorcizada, pois uns frades, que nada sabiam de medicina, julgavam que esta estava possuída por demónios, o que só piorou a sua condição. Estes episódios, relatados após a caracterização do estado do Minho após as lutas entre liberais e miguelistas, servem para mostrar como uma parte do povo ainda acreditava que algumas doenças, como a epilepsia e a demência, eram causadas pelos demónios.

Aspetos a destacar 
Na minha opinião, este livro merece ser destacado pela positiva devido à caracterização que faz acerca de como era Portugal no período após as lutas que existiram entre os liberais e os absolutistas, bem como a caracterização que faz do povo, sendo que uma parte deste era muito religiosa e pouco instruída, ao passo que a outra, apesar de ser religiosa, era mais instruída, atribuindo algumas causas das coisas a efeitos naturais e não religiosos. Além disso, é de salientar que, apesar de se dizer que o autor era a favor dos miguelistas, estes foram criticados duramente, tendo sido caracterizados como bêbados, estúpidos e ingénuos. 

Porém, este livro não merece apenas um destaque pela positiva, visto que, em algumas partes, era muito maçador, dadas as suas intensivas descrições, que, apesar de não as apreciar, contribuem para a caracterização de como era Portugal nessa altura. Julgo que isso deva ser considerado como um aspeto negativo, pois, tendo como termo de comparação algumas obras de Eça de Queirós, onde encontramos também longas descrições, estas parecem mais maçadoras, visto que não conseguem ser inseridas na obra de modo a que os leitores sintam que são necessárias.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Crítica Literária #6 - A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós

Razão da escolha
Decidi ler este livro por dois motivos: por um lado, esta obra foi-me recomendada por um familiar e, em segundo lugar, porque gosto bastante do estilo de escrita de Eça de Queiroz.

Reação às primeiras páginas
Como já tinha acontecido em Os Maias, esta obra também começa com alguns aspetos que nos despertam a atenção, nomeadamente o resumo da vida de Jacinto “Galeão”, avô do protagonista, e, posteriormente, a descrição mais pormenorizada da vida na juventude do protagonista, Jacinto.

Resumo
Este livro encontra-se dividido em duas partes, em que podemos verificar o contraste na vida de Jacinto.

Na introdução, Jacinto é-nos apresentado como um homem rico, que vivia em Paris e que achava que a verdadeira felicidade se encontrava na Cidade e que, por esse motivo, enchia o 202, como era conhecida a sua casa, de Civilização, isto é, de todas as máquinas que achava serem úteis na sua vida, de incontáveis livros e de quase todas as publicações periódicas de vários locais da Europa. 

Depois de Zé Fernandes, amigo de Jacinto e narrador deste livro, voltar de Guiães, no Douro, este encontrou Jacinto muito aborrecido com a vida, sendo este sentimento justificado pela fartura que Jacinto tinha da Cidade e da Civilização, pois já não sentia qualquer prazer em ir a nenhum evento social, já que todos acabavam por ser semelhantes, nem em dar os seus passeios, em que via sempre as mesmas pessoas, nem mesmo quando as mais altas figuras da sociedade se encontravam consigo. 

A segunda parte começa quando Jacinto decide ir a Tormes, no Douro, para assistir à cerimónia da transladação dos ossos do seu avô, Jacinto “Galeão”. A viagem não correu de acordo com o previsto, pois Jacinto tencionava levar um pouco da Cidade para Tormes, mas isso não aconteceu, uma vez que as malas e os caixotes que Jacinto havia expedido de Paris acabaram por ir parar a Espanha por engano.

Quando chegou a Tormes, devido ao problema com a sua bagagem, Jacinto e Zé Fernandes apenas possuíam o que tinham vestido e pouco mais. Inicialmente, Jacinto planeava ir a Lisboa no dia seguinte, mas mudou de ideias, pois, ao contrário do que afirmava quando era jovem, passou a achar que se podia viver plenamente realizado no campo, uma vez que Jacinto gostava imenso dos encantos e da simplicidade que encontrava na natureza. Além disso, Jacinto tinha imensos planos para Tormes, mas acabou por abandonar as suas ideias mais arrojadas, pondo em prática só alguns dos seus planos, tais como construir casas novas e com melhores condições para os seus criados, ou apenas renovar as que estavam em melhor estado; e ligar, por telefone, Tormes ao boticário de Guiães e à casa de Zé Fernandes.

O livro termina quando, após alguns anos, Zé Fernandes, regressa a Paris e constata que quase tudo se mantinha inalterado, fazendo-o regressar a Guiães.

Aspetos a destacar 
Na minha opinião, o estilo de escrita do autor merece destaque porque, apesar de já ter lido outros livros de Eça de Queirós, foi a primeira vez que notei, verdadeiramente, o realismo da sua escrita. 

Outro aspeto que merece destaque é a dualidade apresentada entre a Cidade e as Serras. Como este livro foi escrito na fase final da vida do autor, já não está tão presente a forte crítica social que fez noutros livros, mas podemos encontrar claramente a crítica entre dois espaços físicos: a Cidade e as Serras.

Por um lado, o autor caracteriza a Cidade (Paris) como um local onde se pode encontrar todas as tecnologias, toda a imprensa e literatura e também grande parte das pessoas que têm maior influência na sociedade. Contudo, apesar de todas essas virtudes, a Cidade, com o passar do tempo, torna-se um local que nos satura, visto que a rotina é sempre igual.

Por outro lado, o autor valoriza as Serras, devido à sua simplicidade, o que contrasta com a Cidade, que é um local onde é impossível encontrar calma, visto que os dias lá são repletos de atividade.

Recomendação
Recomendaria a leitura deste livro, pois o estilo de escrita de Eça de Queirós permite que compreendamos sem dificuldade a mensagem que quer transmitir, que é a dualidade apresentada entre a Cidade (o progresso e a civilização) e as Serras (tranquilidade e simplicidade).

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Crítica Literária #5 - Os Predadores, de Vítor Matos

Razão da escolha
Escolhi este livro para ler porque fiquei fascinado, a partir do momento que o vi, pela sua capa e contracapa, tendo sido esse, também, o motivo que me levou a comprá-lo.

Reação às primeiras páginas
Este livro, como é indicado, logo, na capa, é uma investigação jornalística e eu nunca tinha lido nada deste género, sendo que, quando comecei a ler, não tinha nenhuma expectativa acerca do que iria encontrar, sabendo apenas à partida que encontraria inúmeros casos denunciados de situações que ocorrem no seio dos dois maiores partidos portugueses.

Assim, constatei que este livro era um pouco mais pesado do que o tipo de livros que prefiro, mas, como eu queria ler algo deste género, fiquei bastante satisfeito com o que li e descobri a partir do início.

Resumo
Como este livro não é uma história narrativa, o que se pode dizer acerca deste livro é que este se encontra dividido em três partes principais: “Os de Baixo”; “Os do Meio”; e “Os de Cima”.

Em cada uma dessas partes, o autor denuncia vários casos de escândalos que ocorreram dentro do PS e do PSD, desde a base dos partidos até ao topo dos mesmos, sendo que ambos os partidos funcionam como uma pirâmide de interesses, ou seja, os militantes de baixo garantem o poder dos seus superiores e estes últimos, em troca do apoio que recebem dos de baixo, dão-lhes um lugar nas suas estruturas, ou seja, emprego, favores, entre outras coisas.

É ainda de salientar que tudo o que move os “líderes” dos dois grandes partidos portugueses são, maioritariamente, interesses pessoais, aos quais o interesse público se tem que subjugar, tendo que ser o povo a suportar tudo isso.

Aspetos a destacar
O grande ponto de interesse deste livro é, sem dúvida, o enorme número de escândalos que existem dentro do PS e do PSD, que, apesar de tentarem ser “abafados” pelas próprias estruturas partidárias, acabam por ser divulgadas e que são aqui expostas. Na minha opinião, este é o aspeto que merece principal destaque, pois os escândalos estendem-se desde a parte mais baixa dos partidos até ao topo, sendo que também a zona “intermédia” não escapa.

Por outras palavras, recomendo a todos a leitura deste livro, pois é fundamental que toda a sociedade tenha consciência política, uma vez que só desse modo a democracia pode evoluir e podemos viver num País melhor.


Na minha visão, isto é muito preocupante, pois a legitimidade que é dada aos nossos governantes ou aos líderes da oposição é ganha através de processos ilegítimos, mas que, como não são denunciados, a opinião pública acaba por se esquecer deles. Contudo, o povo sabe que os dirigentes da política não sobem nas suas estruturas por mérito, mas acabam por confiar neles porque se vão esquecendo dos vários casos particulares que são denunciados, mas, no final, a imagem que acabam por ficar de todos os políticos é uma imagem negativa, apesar de, naturalmente, haver bons profissionais, que, para ascenderem nas estruturas têm também que pactuar com os aparelhos, mesmo que seja de forma indireta, limitando-se a aceitar o que vão vendo, sem denunciarem situações que são antidemocráticas.

Recomendação
A meu ver, este livro deveria ser lido por todas as pessoas para que ficassem elucidadas acerca do modo como funcionam os dois maiores partidos portugueses, quer seja para se desenganarem caso tivessem uma perspetiva de que dentro das estruturas partidárias tudo funcionava bem e de forma democrática, quer fosse para confirmar algumas ideias que já tivessem feitas.


domingo, 5 de fevereiro de 2017

Crítica Literária #4 - A Relíquia, de Eça de Queirós

Razão da escolha
Já há algum tempo que li este livro e que tenho esta crítica guardada no meu computador, mas, quando decidi ler este livro, fi-lo por curiosidade, despoletada por uma apresentação de um colega da minha turma, além de também pensar que esta seria uma obra que me iria preparar para o estilo de escrita de Eça de Queirós, quando fosse ler Os Maias.

Resumo
O livro relata a história de Teodorico Raposo, sobrinho e único herdeiro de Dona Patrocínio das Neves, senhora muito religiosa que desaprovava veementemente qualquer amor ou “relaxação”. Por outro lado, Raposo era um homem que só tinha como objetivo ficar com a herança da sua tia, mas, para isso, era necessário que ele fosse um homem tão religioso como ela era. Contudo, ele não acreditava em Deus, e, para se apoderar da fortuna, ele vivia duas vidas: uma muito religiosa e outra cheia de obscenidades.

Raposo faz uma viagem a Jerusalém a pedido da sua tia, que o incumbe de trazer uma relíquia muito valiosa do ponto de vista religioso. Nessa viagem, conhece um alemão muito culto que o acompanha, guiando-o e dando-lhe explicações acerca de vários locais e monumentos. Antes de partirem para Jerusalém, fazem uma paragem em Alexandria, onde Raposo se envolve com uma luveira, cujo nome era Mary. Antes de seguirem viagem, Mary oferece-lhe uma camisa de dormir que o acompanha durante toda a sua jornada.

Ao contrário do que a sua tia lhe havia pedido, Raposo não rezou nada em nenhum local, fosse ele sagrado ou não. Em Jerusalém, Raposo e Topsius presenciam a execução de Jesus, na companhia de outros judeus que desejavam que essa execução fosse feita, ao contrário de Raposo. Tal como havia prometido à sua tia e aos amigos dela, recolheu todas as relíquias que lhe tinham encomendadas, sendo a da sua tia a mais sagrada: a coroa de espinhos usada por Jesus.

Depois da sua peregrinação, regressou a sua casa e, no momento em que a sua tia ia desembrulhar a coroa de espinhos, encontrou a camisa de dormir de Mary, o que fez com que Raposo fosse expulso de casa e fosse deserdado. A camisa de dormir de Mary foi trocada pela coroa de espinhos porque os seus embrulhos eram muito semelhantes e, ainda em Jerusalém, Raposo enganara-se e dera a coroa de espinhos a uma mulher que estava a chorar em vez da camisa de dormir de Mary.

Uma vez deserdado, Raposo viu Jesus que lhe disse que a hipocrisia não tinha qualquer valor, uma vez que ele levava uma vida falsa e religiosa e uma outra obscena que era a sua realmente. Acrescentou também que não fora ele, Jesus, a trocar os embrulhos mas Raposo e que fora a sua hipocrisia e a falsidade que o levaram a ser deserdado.

Reação às primeiras páginas
Gostei bastante das primeiras páginas, pois, desde cedo, Eça de Queirós utiliza bastante a ironia e cria muitas situações onde está presente o cómico de situação.

Aspetos a destacar
Acho que é importante destacar a capacidade descritiva de Eça de Queirós por ser bastante pormenorizada e mostrar como são certas situações e também algumas paisagens. Este aspeto também tem um lado negativo, pois a pormenorização é tal que há certas partes do livro que são muito aborrecidas.

Também é importante destacar as personagens que o autor cria: Raposo é um vilão, é falso e um hipócrita que só deseja que a sua tia morra. Este seria uma pessoa odiosa, mas que o autor nos faz com que nos agrade, fazendo-nos odiar a D. Patrocínio. Isto é algo que merece destaque, uma vez que que nem todos os autores têm esta capacidade.

Um outro aspeto que merece destaque é a capacidade de Eça utilizar a ironia para criar os mais diversos cómicos de situação, que ajudam a acentuar a crítica que o autor pretende fazer à sociedade portuguesa do seu tempo.

Recomendação
Esta obra, sem dúvida, ajuda a entender a forma como Eça de Queirós escreve, além de ser um livro bastante cómico e uma sátira à população portuguesa do tempo do autor. O único aspeto negativo que vejo neste livro é o facto de as descrições serem demasiado pormenorizadas, o que pode fazer com que o livro perca o interesse.