Razão da escolha
António Lobo Antunes é um grande nome da literatura Portuguesa e, como ainda não tinha lido nenhuma obra sua, estava curioso em relação a como seria o seu estilo de escrita. Dado ter este livro cá em casa, associado ao fator atrás referido, decidi dar-lhe uma oportunidade.
Reação às primeiras páginas
As melhores palavras para descrever a minha reação perante as primeiras páginas da obra são “choque” e “confusão”. Choque porque a mancha gráfica com que me deparei é a mesma de Saramago, que acabei por ultrapassar sem grandes dificuldades após me habituar ao seu estilo de escrita. Confusão porque o autor começa imediatamente a sua história sem nos dar tempo para entendermos o que está a acontecer, bombardeando-nos com personagens e com os seus atos, aparentemente sem ligação.
Resumo
A história na base deste livro é o contraste existente entre o passado glorioso de Portugal, onde figuraram inúmeras personagens que todos conhecemos, como Vasco da Gama, Diogo Cão, Sepúlveda, Francisco Xavier, e o presente decadente que Portugal vivia em 1988, ano em que esta obra foi publicada.
A concretização do contraste é conseguida quando António Lobo Antunes dá uma nova vida às grandiosas personagens portuguesas, após os seus feitos, descrevendo a sua vida mundana em Lisboa, após terem regressado de África, corrompendo uns, com dinheiro, com o álcool, com as prostitutas, com as doenças, entre outras formas, mas todos eles acabam como sendo meras pessoas que conseguiram alcançar feitos heroicos, mas que se perderam.
Aspetos a destacar
Este livro, apesar de não possuir um enredo que eu gostasse e que seguisse com avidez, possui outros pontos fortes. Entre eles, há que salientar a habilidade que o autor tem para misturar e para nos mostrar a decadência de Portugal no final dos anos 80, usando, para isso, figuras incontornáveis da História de Portugal que ajudaram o nosso País a atingir a glória.
António Lobo Antunes mostra-nos como era a Lisboa pós-revolução, com os retornados das colónias africanas, com a prostituição que existia em toda a parte, com as doenças que se iam alastrando, sendo o seu combate feito com a reunião de todos os doentes nos sanatórios, com os retornados que se tornavam alcoólicos, provavelmente devido à guerra, entre outros fatores.
Porém, o mais notório é a falta de grandiosidade de Portugal, pois Lobo Antunes, ao inserir estas personagens na sociedade portuguesa do final dos anos 80, banaliza-as após os seus gloriosos feitos, o que lhes retira todo o seu prestígio, até porque são poucos os que, na obra, se recordam, mesmo que vagamente, desses feitos.
Merece ainda destaque algumas características de Portugal evidenciadas pelo autor, pois, apesar de muitas situações já não acontecerem com a frequência que aconteciam há 30 anos, existem, porém, outras que continuam a ser bem atuais.
Recomendação
Na minha opinião, esta obra peca no sentido do seu enredo, mas, em contrapartida, marca muitos pontos devido à habilidade que o autor tem para nos mostrar a diferença entre o Portugal glorioso dos Descobrimentos e o Portugal decadente do final dos anos 80. Esse, para mim, é o fator mais importante que me leva a recomendar este livro, pois, apesar da dificuldade inicial que senti para me enquadrar no rumo da obra, no final, o sentimento de estranheza que a mesma me causou foi recompensador, visto que senti que consegui captar a mensagem por trás de uma obra tão densa e que nos faz pensar no que era e no que é o nosso País
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